Complexo Hípico e Equoterapia Integrada - PÉGASOS
- lorenaribeiroarq
- 27 de jun. de 2018
- 7 min de leitura
Atualizado: 24 de jul. de 2018
Projeto de Trabalho Final de Graduação, apresentado na PUC-Minas.
Orientador: Professor Herbert Teixeira.
































Não é possível falar sobre esse projeto sem explicar de onde veio o tema, e para tanto terei que voltar alguns anos no tempo...
Eu morei na fazenda até os 7 anos de idade, no estado do Pará. Minha melhor amiga era uma égua, manga larga preta com um diamante na testa. O nome dela era Nobreza e a partir daí começou a minha paixão por cavalos.
Quando para Belo Horizonte para fazer arquitetura, faltando um ano para formar eu estava odiando a faculdade. Me perguntava o que faria da minha vida, e se isso era para mim. Resolvi que precisava aliar a arquitetura com algo que eu amasse, caso contrário iria jogar o dinheiro dos meus pais no lixo. E não poderia ser diferente: tenho paixão por cavalos.
Comecei a pesquisar como e o que eu poderia agregar meu conhecimento de arquiteta ao mundo equestre, e descobri a Equoterapia. De cara fiquei apaixonada, casava com meu lado de trabalho voluntário. E foi aí que decidi o tema do meu TFG.
Para quem não sabe, a Equoterapia é “um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de Saúde, Educação e Equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência e/ou com necessidades especiais” (ANDE, 1999). Minha ideia era fazer um Centro de Equoterapia, um trabalho filantrópico para pessoas carentes.
No semestre seguinte eu mudei de faculdade, e chegada a hora de fazer o TFG dei início as minhas pesquisas, visitas aos haras, hípicas, centros de equoterapia, conversar com profissionais, verificar a demanda, o programa,etc.
Percebi então, que a equoterapia por si só não se sustentava e decidi expandir para um complexo hípico, criando a possibilidade de arrecadar recursos que mantivesse a equoterapia gratuita, através do aluguel de baias, escolinhas de equitação, hipismo, ou por apadrinhamento.
Pude tirar algumas conclusões das visitas às obras análogas que realizei, e a partir delas determinei como seria a minha proposta:
DIAGNÓSTICO DOS ESTUDOS DE CASO:
•Edifícios individuais e distantes;
•Dinâmica de fluxos inadequada;
•Implantação ortogonal;
•Equoterapia descoberta;
PROPOSTA DO PROJETO:
•Edifício único que abrange todas as funções;
•Dinâmica de fluxos eficaz;
•Implantação diferenciada; Picadeiros de equoterapia indoor;
•Inclusão social de usuários e funcionários;
•Acessibilidade em todo complexo;
Definido o tema e o que eu queria para o meu projeto, os conceitos que me guiaram foram da fluidez, funcionalidade, sustentabilidade e proximidade entre pessoas e cavalos.
Passei a procurar o terreno, que apesar de ser para fins acadêmicos, precisava estar de acordo com as necessidades do meu empreendimento. Era necessário atender a certas características: precisava da presença de água, não ter grande inclinação e ser grande, pois o cavalo é um animal de planícies e precisa de espaço para pastos. Optei por uma área na beira da Rodovia 381, em Betim, sentido Inhotim.
A localização é estratégica, pois é uma região que incentiva o turismo ecológico, com acesso privilegiado, perto da capital e região metropolitana, e que teria uma boa visibilidade visto por quem estiver viajando de carro.
O acesso da rodovia é feito por uma trincheira, e ao entrar no terreno, o visitante pode ir para o restaurante, com uma praça externa e deck na beira da represa, ou adentrar no complexo pela portaria que fica ao lado da entrada do restaurante. Para fazer essa integração foi utilizado uma única cobertura que abrange a edificação da portaria até a porta do restaurante.
Passando pelas cancelas, pode-se ir direto ao setor da equoterapia, ou para a área de apresentações e eventos. Os dois caminhos levam à área técnica, onde ficam a veterinária, galpão para armazenar ração, silagem, maquinários e o que mais for necessário para a manutenção do complexo, e também as casas familiares para funcionários e o alojamento.
A implantação foi feita por platôs, cada um a 01 metro de altura do outro e com diferentes funções. O primeiro platô é onde se encontra a administração e uma pequena lanchonete de apoio. No segundo platô estão localizadas as salas de clínicas da equipe multidisciplinar, composta normalmente por pedagogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, educadores físicos, médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, médicos e instrutores de equitação. Quando chega um novo caso, a equipe se reúne na sala de reuniões envidraçadas no centro do platô, analisam e discutem o tratamento mais adequado. Também nesse nível estão os banheiros dotados com acessibilidade para cadeirantes, e a entrada dos picadeiros.
No terceiro platô encontra-se os pavilhões de baias e um lounge com amostra dos troféus. E por último o quarto platô é destinado aos eventos e apresentações, nele estão as arquibancadas com tribuna de juízes, pista de areia para hipismo e pista gramada. Um redondel para apresentação individual de um animal, poltronas fixas e uma grande mesa de concreto. Uma pequena cozinha e banheiros para apoio durante os eventos. Embaixo das arquibancadas há uma passagem dos picadeiros para as pistas com banheiros e vestiários. Há também uma sala de armazenamento dos equipamentos de salto.
Os primeiros aspectos que me guiaram na implantação foram a orientação do sol e ventilação natural. São de suma importância para um projeto arquitetônico, e no meu mais ainda! Como restrição, precisava orientar as arquibancadas e pistas no eixo Norte-Sul, pois o expectador precisa estar com as costas para o sol poente, de forma a não atrapalhar a visibilidade das provas e apresentações.
As baias foram orientadas perpendicular ao vento dominante, desta forma, a renovação do ar é constante. Se a orientação fosse no sentido da ventilação natural, se o cavalo da primeira baia estivesse doente, iria contaminar todos os demais do pavilhão, e a saúde dos animais era minha prioridade. Além da ventilação cruzada, outra estratégia adotada para o melhor conforto dos equinos, foi o uso de shed, que através do Efeito Bernoulli,o ar quente sobe e sai por uma abertura na cobertura, ajudando na saída de bactérias e na renovação do ar. No shed foram usadas telhas translúcidas para permitir a iluminação natural e a visão do céu.
Os cavalos são animais que precisam de ter contato com o exterior, com o contexto do dia, e também são sociáveis, por isso a necessidade do contato com o cavalo da baia ou lado, claro que através de gradis que impedem a ocorrência de brigas e acidentes.
Outra especifidade da baia, é a importância da ventilação cruzada em 03 níveis, no nível médio, com janelas e aberturas na altura do animal. No nível da cobertura, que no caso foi utilizado o shed, como falado a pouco. E principalmente no nível do piso. Isso se deve porque as fezes do cavalo liberam amônia, como é um gás mais denso, fica na parte inferior do ambiente, e ao abaixar a cabeça o animal inala essa substância tóxica, tornando a baia prejudicial à saúde. Ao permitir a ventilação cruzada através aberturas com gradis telados (para evitar a entrada de outros bichos indesejáveis), estamos evitando a insalubridade do local. Vale lembrar que o cavalo possui o pulmão 09 vezes maior que do ser humano, então o que está confortável para nós, talvez não esteja para ele.
Da mesma forma o picadeiro de equoterapia indoor, possui janelas de fora a fora que permitem a ventilação cruzada, shed para saída do ar quente e iluminação natural. Também foi colocado em todo o perímetro as bandas de fechamentos, que evitam acidentes com cavalos e cavaleiros, além de ajudar no adestramento. Devido o uso principal era atender à equoterapia, o nível do picadeiro é 01 metro abaixo do nível do platô, onde foi construído uma estrutura de alvenaria que ajuda os pacientes e instrutores a montar no cavalo, segundo as orientações da ANDE.
O pavilhão de baias tem acesso direto com a veterinária, os picadeiros, e as pistas de apresentações. Ao chegar de fora do complexo, o cavalo vai primeiro para a veterinária, onde haverá uma inspeção na saúde e na documentação, e só depois ele entra para baia que será destinado. Cada pavilhão possui ao centro uma área com duchas, tronco fixo para cuidados de higiene, selaria, quarto de ração, quarto de feno, almoxarifado e banheiro.
A acessibilidade foi ponto primordial do projeto. Todos os lugares são acessíveis à cadeirantes, e isto estava dentro do meu conceito de fluidez. O único local que fez-se necessário o uso de plataforma elevatória foram nas arquibancadas.
A cobertura principal do complexo foi o ponto alto para dar aquele toque de belo que a gente gosta. Ela é feita em módulos com estrutura em aço cortén, vigas invertidas intertravadas com aros, ao centro criei clarabóias para iluminação natural. O recolhimento de água da chuva é feito por calhas que direcionam a água dentro dos pilares, e depois é transferida para uma caixa d'água afim de ser reutilizada.
A estrutura da cobertura é independente das edificações, o que cria uma sensação de leveza e amplitude. O descolamento, permitiu uma maior integração entre externo e interno, não definindo os limites dos mesmos, e dando a ideia de estar todo o edifício ao ar-livre.
As isotelhas térmicas com inclinação de 5% foram a escolha para essa área, elas imitam o formato de uma telha colonial em cima, e embaixo parece um forro. Nos pavilhões de baias e picadeiros, optei por telhas zipadas, inclinação de 2,5%. Na cobertura do picadeiro foram apoiadas placas fotovoltaicas como forma de energia alternativa.
Falando um pouco da veterinária, ela conta com depósito, laboratório, farmácia, almoxarifado em conjunto com a sala do veterinário e banheiro. 03 baias destinadas aos animais necessitados de atenção e cuidados. Um manequim para coleta de sêmen, tronco fixo principal para exames e manejo veterinário, e um conjunto de troncos para tropa. Ao lado 03 piquetes pequenos dão apoio.
O complexo conta com piquetes separados para garanhões, eles precisam de estar sozinhos, pois possuem temperamentos mais difíceis junto com outros animais. E muitos piquetes para tropa com bom espaço de pastagem. Além disso, foi projetado uma piscina para exercitar os animais.
São 03 áreas de estacionamento, a primeira atende o restaurante. A segunda são para a equoterapia e a terceira na área das pistas de apresentações.
O amor que dediquei no projeto foi o que levou a ter uma excelente nota e o prestígio dos colegas e professores. Não poderia ter terminado a faculdade de arquitetura mais orgulhosa do meu trabalho final.
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